Redoma de vidro
Onde está o amor de conto de fadas que quando adolescentes procurávamos incansavelmente? Onde está o sentimento mútuo que líamos nos grandes romances? Onde está a história conturbada que terminava em uma grande paixão que víamos nas novelas?
Vivemos na era em que é fácil conhecer um novo alguém. Como em um passe de mágica, repomos esse alguém que está hoje aqui por outro, um modelo mais novo, ou mais intelectualizado, ou mais bonito. E fazemos isso como se estivéssemos trocando nosso guarda-roupa de inverno pelo de verão.
Não há mais a vontade de tentar. E não digo o tentar quando tudo está ótimo. Não há mais vontade de dar as mãos, abraçar forte para passar pela tempestade. Nas primeiras gotas de chuva, já nos distanciamos, pois nosso guarda-chuva é para um só. Só vale a pena estar junto nos dias de Sol.
O problema é quando o inverno se aproxima e aquele buraco no peito que deixamos esquecido durante o verão faz sentir-se gelado. Aí queremos alguém para acalentar, para preencher o espaço vazio. Só esquecemos de um detalhe: é necessário cultivar para colher os frutos.
Essa cultura de que tudo vem pronto, limpo e industrializado serve para os alimentos e produções em grande escala. Para o amor, ainda vale o cuidado individual, dos mínimos detalhes, cuidado a cada segundo para que ele continue a crescer.
É errado hoje em dia querer uma única pessoa. É errado querer se entregar. Dá medo se entregar. Porque muitas vezes, mergulhamos de cabeça em uma piscina de concreto. E aí, lá embaixo, ninguém nos ajudará a nos recuperarmos. E as cicatrizes permanecem por muito tempo, até que em certo ponto, nós também deixamos de acreditar e nos tornamos mais um dos seres vazios que andam pelo planeta.
Indo contra o fluxo, decidi que vou esperar meu príncipe dentro de uma redoma de vidro. Pois sei que em algum momento, vou ser escolhido como a torta preferida de alguém.
Publicado em março 20, 2013, em Pensamentos, The Serious. Adicione o link aos favoritos. 2 Comentários.
Não há problema nenhum com a torta, as pessoas é que fazem as suas escolhas. Ao final do dia ela permanece intacta. E talvez seja justamente isso que desperte a atenção de alguém… ótimo texto!
Obrigado! 🙂